A cidade já nasceu sob o signo do progresso, quando há quase 200 anos, comerciantes caixeiros-viajantes resolveram transformar as terras da Fazenda Carrancudo em um lugar de parada para descanso e comércio de seus produtos, muitos dos quais vindos de cidades do interior sergipano.

Depois de alguns anos, a feirinha foi transferida para a localidade conhecida como Alto do João André e, em seguida para uma fazenda de propriedade do major Antonino, onde havia muitos pés de cajarana e bem sombreada, próprio para a implantação de um entreposto comercial, o que realmente aconteceu, com a criação de uma feirinha.

Diante do crescimento do comércio ali implantado, os principais personagens: coronéis, major, capitães e famílias dominantes e influentes que se formaram, resolveram construir uma capela no local da feira e, intencionalmente ou não estava dado o ponta-pé inicial para a fundação de uma cidade que hoje se destaca entre as melhores da região do semiárido baiano Nordeste 2.

Beneficiada pela passagem da estrada transnordestina, atualmente Rodovia Santos Dumont (BR 116/Norte), Euclides da Cunha, que inicialmente havia recebido o nome de Cumbe, se transformou num ponto de parada para todos os veículos: caminhões, ônibus, paus de arara, automóveis que trafegavam nos sentidos Norte/Sul.

Muitos imigrantes do nordeste que fugiam da longa seca, especialmente em 1932, – quando tronco de ouricurizeiro virou alimento para muita gente, aportou por aqui, e aqueles com melhores condições financeiras criaram estabelecimentos comerciais: bares, restaurantes, hotéis, dormitórios, postos de gasolina, a maioria desses estabelecimentos localizados na atual Av. Cel. Almerindo Rehem, antigamente conhecida como Rua da Bomba, por existir no local o primeiro posto de combustíveis da cidade e da região.

A cidade oferecia boas perspectivas de crescimento com o grande fluxo de veículos e pessoas em trânsito. Muitas famílias também optaram em ficar por aqui, e, as condições climáticas com as chuvas acontecendo nos períodos certos, garantiam boas safras e fartura para todos.

Os estabelecimentos comerciais se multiplicavam nos mais diversos segmentos: armarinhos, armazéns, padarias, depósitos de cereais, fábricas de bebidas, clubes sociais, cinema, festas populares que atraiam multidões, enfim tudo que contribuía para o desenvolvimento do lugar.

Na década de 1960, mais precisamente no período da ditadura militar, Euclides da Cunha viveu dois momentos importantes para a sua história política e de desenvolvimento, com o anúncio do asfaltamento da estrada Transnordestina, que passava a ser conhecida como BR 116/Norte, caminho mais curto entre a cidade de Fortaleza-CE, principal entreposto comercial do Nordeste, e o Sul do Brasil. (A BR 116 começa em Fortaleza-CE, e termina na cidade de Jaguarão-RS, na divisa com o Uruguai.

Máquinas pesadas chegaram a Euclides da Cunha, onde se estabeleceram empresas de engenharia especializadas na construção de rodovias. Emprego para dezenas de operários euclidenses e da região foram gerados, propriedades rurais foram desapropriadas para dar passagem à rodovia, sem sombra de dúvidas, um grande sonho dos euclidenses.

O serviço de terraplenagem já se encontrava além do município de Macururé, quando foram, inexplicavelmente paralisados e as firmas construtoras dispensaram funcionários e retiraram as máquinas do trecho.

Começava aí, um longo período de decadência, cuja responsabilidade fora imputada às representações políticas da época, que aceitaram passivamente a suspensão da construção da estrada, em detrimento à BR 407, que liga Feira de Santana à cidade de Juazeiro, divisa com o Estado de Pernambuco.

Muitos foram os comentários sobre a passividade do então Governador Lomanto Júnior e os deputados estaduais e federais que receberam milhares de votos dos euclidenses, além de o amofinamento das autoridades euclidenses que aceitaram sem contestação uma decisão do governador de priorizar o asfaltamento da rodovia que recebera o seu nome, como forma de agradecimento e homenagem.

Sem o trânsito de centenas de veículos pela cidade e o transporte de passageiros em trânsito desviados para outra rodovia, por causa das condições precaríssimas em que ficaram os trechos em construção: abandonados e intransitáveis, principalmente no período de inverno e trovoada, quando quem se arriscava passar ficava atolado e sem condições de ser retirado imediatamente, pois em alguns casos não havia máquinas com potência capaz de puxar um desses caminhões com toneladas de carga.

Lembro-me, perfeitamente, de um caminhão Scania que se dirigia para o Nordeste e atolou no trecho do Rio Vermelho e só pôde ser retirado após 15 dias, quando as chuvas deram trégua por alguns dias e mesmo assim foram utilizadas duas motoniveladoras para remover o pesado caminhão, resultando em protesto e indignação do proprietário do veículo, pelo prejuízo financeiro causado e o comprometimento da carga, um carregamento de carne de charque produzida no Rio Grande do Sul, e destinada à Fortaleza-CE.

Postos de gasolina foram fechados, bares, restaurantes, dormitórios, hotéis, padarias, pequenos comerciantes de comida e frutas também fecharam suas barracas. Estas, em bom número, estabelecidas ao longo da Av. Cel. Almerindo Rehem, principalmente, nas proximidades das Ruas Oliveira Brito, Castro Alves, Benjamin Constant.

O bom do progresso e desenvolvimento tão almejados estavam com os dias contados, e isso infelizmente aconteceu. Os caminhões de carga, ônibus, paus de arara, automóveis, caravanas compostas de dezenas de automóveis novos que transitavam de São Paulo para diversas cidades do Nordeste (não havia cegonhas), simplesmente desapareceram.

Tristeza, lamento, desilusão foi o que a paralisação das obras da BR 116/Norte deixou. Situação que só se agravava com as fortes secas prolongadas por muitos anos, que dizimava rebanhos e expulsava o homem do campo fazendo-o migrar em caravanas para o Sul do País, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro.

Esse período foi uma página muito triste da nossa história. História que foi reconstruída ao longo desses 50 anos, graças à força de um povo que resolveu por conta própria transformar as cinzas de uma economia municipal destruída em pavimento para a retomada do desenvolvimento perdido graças, principalmente, da insensibilidade de um governador que tinha como símbolo de campanha, uma semente de feijão, símbolo também da nossa economia.

A omissão dos legítimos “representantes” do povo, o coronelismo, a submissão, interesses próprios em detrimento aos interesses coletivos, serviram para alertar boa parte do povo euclidense, especialmente proprietários de estabelecimentos comerciais que, com força e coragem deram a sua contribuição para tirar o município do caos econômico e político em que se encontrava.

Nas décadas de 1970, 1980, 1990, quem chegava a Euclides da Cunha já sentia o soerguimento de uma economia que, por longos 30 anos, parecia fadada ao fracasso total.

A renovação dos quadros que comandavam os principais comércios foi, sem sombra de dúvida, fator preponderante para o crescimento econômico do município.

Jovens que herdaram dos pais, avós, etc., antigas vendas, armazéns, armarinhos, deram aos seus estabelecimentos status de empresa. Muitos desses herdeiros possuem formação acadêmica e isso muito contribuiu para as transformações que as casas comerciais necessitavam para tornarem-se atrativas e promovessem as mudanças que em menos de 20 anos transformaram o comércio de Euclides da Cunha no melhor da região.

Estrategicamente localizada no coração do semiárido II, região Nordeste da Bahia, de grande importância geopolítica, Euclides da Cunha despertou a atenção de setores importantes dos Governos Estadual e Federal, empresas dos mais diversos segmentos, que muito contribuiu para a geração de emprego e renda, especialmente no segmento comercial, com a instalação de lojas de eletrodomésticos, supermercados, material de construção, automotivo, combustível, óptico, confecções e tecidos, calçados, farmacêutico, médico e hospitalar, entre outros.

Tantos atrativos comerciais não seriam possíveis, se não houve crescimento na logística de apoio para quem vende e compra produtos aqui comercializados: hotéis, pousadas, restaurantes, pizzarias, lanchonetes, churrascarias, além de quatro agências bancárias muito importantes, e uma cooperada.

A criação da Câmara de Dirigentes Lojistas foi de extrema importância para a reconstrução do comércio local. No início, a desconfiança de muitos dos poucos que acreditaram na proposta de cunho associativo com a finalidade de organizar, orientar, crescer, fortalecer e obter lucro.

A CDL de Euclides da Cunha é um desses bons exemplos de entidade que sabe aglomerar, defender a classe que representa e promover políticas afirmativas que transformam ações em lucro e isso significa fortalecimento da economia municipal com geração de emprego e renda e crescimento social.

Por: José Dilson.